A mulher e a contabilidade
A solteira é... crédito
A casada é... débito
A cunhada é... previsão para devedores duvidosos
A bonita é... lançamento certo
A feia é... estorno
A feia e rica é... conta de compensação
A bonita e rica é... lucro certo
A vizinha é... ações de outras companhias
As que fazem operações plásticas são... obras e benfeitorias
As gestantes são... obras em andamento
As que não são solteiras, casadas ou viúvas... contas a classificar
A sogra pode ser classificada em duas rubricas: prejuízo acumulado ou contas a pagar.
Oração do Contador
Sistema Contábil que estais no computador
Carregado seja o Vosso Programa
Venha a nós o vosso Balancete
Seja gerada a ficha de lançamento
Assim no Diário como no Razão
A contrapartida nossa de cada dia nos dai hoje,
Perdoai os nossos estornos
Assim como nós perdoamos quando há diferenças
Não nos deixeis cair em Auditoria
E livrai-nos da Fiscalização
Amém.
Contabilidade Conjugal
Para quem não suporta ou não entende nada de contabilidade, vou explicar mais ou menos como funciona.
A solteira é crédito; a casada é débito; a cunhada é previsão para devedores duvidosos; a bonita é lançamento certo; a feia é estorno; a feia e rica conta de compensação; a bonita e rica é lucro certo; a ex-namorada é saldo de exercícios anteriores; a namorada é resultado de exercício futuro; a noiva é reserva legal; a esposa é capital integralizado; a vizinha é ações de outras companhias.
Já a amante é empresa coligada; as que fazem operações plásticas são obras e benfeitorias; as gestantes são obras em andamento; as que dão bola são incentivos recebidos; as que não são viúvas, casadas ou solteiras são contas a classificar; as que muito namoram e não se casam são saldo à disposição da assembléia; as que são surpreendidas em flagrante são passivo a descoberto; a sogra pode ser classificada como prejuízo acumulado ou contas a pagar.
terça-feira, 29 de abril de 2014
Contabilidade criativa e responsabilidade dos auditores
Revista Contabilidade & Finanças
Ariovaldo dos SantosI; Ivan Ricardo Guevara GrateronII
IProfessor Doutor do Departamento de Contabilidade e Atuária - FEA-USP E-mail: arisanto@usp.br
IIProfesor de la Universidad Centroccidental Lisandro Alvarado - UCLA - Barquisimeto - Venezuela E-mail: ivanrguevara36@hotmail.com
Ariovaldo dos SantosI; Ivan Ricardo Guevara GrateronII
IProfessor Doutor do Departamento de Contabilidade e Atuária - FEA-USP E-mail: arisanto@usp.br
IIProfesor de la Universidad Centroccidental Lisandro Alvarado - UCLA - Barquisimeto - Venezuela E-mail: ivanrguevara36@hotmail.com
INTRODUÇÃO
A expressão "Earnings Management", utilizada para se referir à Contabilidad Creativa, como tem sido freqüentemente traduzida para a língua espanhola1,
ou, em português, Contabilidade criativa, como será utilizada no
contexto deste trabalho, tanto na sua prática como quando é utilizada
como estratégia empresarial, vem ganhando cada dia uma maior presença na
informação contábil das empresas.
É importante considerar que a expressão earnings management deve ser desmembrada nas duas palavras que a compõem. De um lado a palavra management, que em português significa gerência ou manuseio, e, por outro, a palavra earnings, cujo significado é, fundamentalmente, o resultado. Assim, earnings management
pode ser entendida como gerenciamento ou manuseio dos resultados, com a
intenção de mostrar uma imagem diferente (estável no tempo, melhor ou
pior) da entidade.
Diversos
autores têm escrito sobre a tênue barreira que separa a chamada
Contabilidade criativa da fraude contábil, ressalvando-se inclusive que
alguns desses autores as tratam como sinônimas. A transparência na
informação tem se convertido num requisito fundamental para o
funcionamento dos mercados internacionais, e isso exige um conjunto de
medidas, normas e regras com o objetivo de garantir que a "adequada"
informação contábil chegue até seus usuários. Esse adjetivo, "adequada",
atribuído à informação contábil, pode ser interpretado de muitas formas
diferentes e deverá, neste trabalho, ser entendido como a aplicação
natural dos princípios fundamentais da contabilidade. Aparentemente, a
aplicação das normas e regulamentos estabelecidos, tanto no âmbito legal
como no normativo profissional, não tem conseguido seu principal
objetivo no sentido de impedir ou diminuir a prática da Contabilidade
criativa e quiçá deva apelar-se às suas implicações éticas.
Tal
prática nem sempre tem sido evidente na informação contábil que as
empresas oferecem; ao contrário, na maioria das vezes essa prática
encontra-se escondida nas complexas demonstrações contábeis.
Paralelamente, a função de auditoria se desenvolveu com muita rapidez e
vem ocupando posições de grande importância na sociedade. A base desse
desenvolvimento da profissão do auditor lastreou-se, fundamentalmente,
na crescente necessidade das informações requeridas pelos usuários,
previstas com a objetividade de um profissional independente que agrega
credibilidade e fidúcia aos dados oferecidos pela entidade auditada.
O
que se discute atualmente é se a responsabilidade do auditor deve
restringir-se à emissão de um parecer que contenha sua opinião
profissional, em relação à aplicação dos princípios fundamentais de
contabilidade, ou também incluir a necessidade de informações atuais dos
usuários, já que o modelo de parecer utilizado atualmente não foi
concebido para ser utilizado para tomada de decisões. Nesse sentido,
cabe a pergunta: deve-se requerer dos auditores uma posição mais clara
sobre a adequação das demonstrações contábeis vis a vis as decisões que
delas se podem inferir ou induzir, ou seja, deve-se requerer uma
responsabilidade social maior do que aquela assumida até o presente
momento? Em outras palavras, cabe perguntar se se pode exigir dos
auditores opiniões que possam ser utilizadas para a tomada de decisões.
2. PREMISSAS BÁSICAS
O
desenvolvimento do mundo dos negócios e a globalização têm impulsionado
a necessidade mundial de organizar e padronizar ou harmonizar as
práticas contábeis dos diferentes países. Essa padronização (que nos
parece utópica) também deverá ser buscada nas técnicas de revisão e
emissão de pareceres2 por parte dos auditores.
As mudanças dos negócios e a globalização, aliadas ao desenvolvimento
tecnológico, têm ocorrido com extrema rapidez e vêm deixando as empresas
cada vez mais vulneráveis, obrigando-as a uma concorrência acirrada.Tal
processo tem tornado as operações e transações das empresas cada vez
mais numerosas e complexas, implicando demandas de serviços de auditoria
cada vez mais adaptadas às mudanças e, conseqüentemente, tornando mais
vulneráveis as responsabilidades do auditor perante seus clientes e
terceiros.
Esta
situação, em muitos casos, tem obrigado os gestores da entidade a
introduzir modificações, muitas vezes por via de artifícios nos
registros contábeis, que são avalizadas nos pareceres de auditores
independentes. De forma geral, os usuários entendem os pareceres dos
auditores como um plus, ou valor agregado, de qualidade à
informação e tomam o nome do auditor como um símbolo de credibilidade,
confiança e segurança.
De
alguns anos para cá, os resultados dos trabalhos das auditorias
independentes ultrapassaram os interesses específicos dos
administradores das entidades auditadas. As próprias leis e normas que
requerem esses serviços citam outros interessados indiretos. Em outras
palavras, todos aqueles que, de alguma forma, tenham qualquer tipo de
relação com a entidade auditada terão interesse na opinião dos auditores
e nela basearão suas decisões. Tais interessados podem resumir-se nos
seguintes grupos: investidores, credores, devedores, financiadores,
reais ou potenciais, sindicatos de empregados e sindicatos patronais. Em
outras palavras, o relatório do auditor tem usuários internos e
externos iguais em importância e isso está consagrado nas Normas
Internacionais de Auditoria, emitidas pelo Comitê Internacional de
Práticas de Auditoria do International Federation of Accountants -
IFAC, de cujo texto se pode extrair que a auditoria é um serviço que se
presta à empresa auditada e que interessa não só a própria empresa, mas
também a terceiros, evidenciando sua função social.
Os
gestores das organizações, regra geral, se servem dos pareceres de
auditoria para incluir ou tomar decisões de caráter econômico-financeiro
e requerem informação objetiva e oportuna que lhes permitam que tais
decisões sejam as mais adequadas. A informação que se oferece atualmente
não permite identificar claramente as práticas de Contabilidade
criativa existentes nas demonstrações contábeis, e a opinião do auditor,
contida no parecer tradicional, não estabelece seu grau de
responsabilidade com respeito a esse fenômeno, e isso, no atual
contexto, pode acabar criando incertezas nos usuários.
A
existência de práticas criativas pode induzir os administradores das
entidades relacionadas à auditada, ou com interesses sobre ela, a tomar
decisões erradas, inexatas ou, no mínimo, diferentes daquelas que
tomariam se tivessem o mesmo conhecimento sobre a entidade que têm
aqueles que prepararam e divulgaram as respectivas informações. As
práticas de Contabilidade criativa distorcem a informação contábil e é
provável, inclusive, que seja essa a principal razão de sua existência,
pois modifica ou induz a matriz de decisões dos usuários.
É
bastante comum encontrar, na bibliografia técnica, divergências
profundas na delimitação do significado e as razões que motivam a
inclusão das práticas de contabilidade criativa. A forma para definir a
Contabilidade criativa utilizada por um autor pode ser completamente
diferente da utilizada por outro. Assim, pode-se encontrar a utilização
do termo contabilidade criativa como um sinônimo de manipulação
contábil, maquiagem contábil, arbitrariedade contábil e até como uma
técnica para "melhorar" o conteúdo da informação contábil. Em nossa
opinião, a contabilidade criativa não pode ser entendida apenas como uma
forma de manipulação dos resultados da entidade. Ela é muito mais ampla
e deve considerar outras alterações que podem ser feitas no sentido de
se alterarem, além dos resultados, itens que possam mascarar a apuração
de índices ou coeficientes, calculados com base nas demonstrações
contábeis.
Com o estudo
e análise da responsabilidade que poderiam ter os auditores
independentes sobre a existência de práticas de Contabilidade criativa
nas demonstrações contábeis de seus clientes, pretende-se oferecer
uma contribuição aos usuários da informação contábil, reais e
potenciais, e, muito especialmente, aos auditores que começam seus
passos nessa fascinante atividade profissional. Para isso, serão
necessárias a discussão e a análise de aspectos relevantes, que têm sido
objeto de amplas e profundas reflexões por parte dos profissionais que
trabalham em empresas de auditoria e por pesquisadores e profissionais
relacionados a essa atividade.
As
demonstrações contábeis das entidades têm sido, até o presente, uma das
maneiras como a organização se comunica com o mundo exterior; ao mesmo
tempo, têm sido o resultado da aplicação de princípios e normas de
contabilidade que buscam, fundamentalmente, a consecução de informação
fidedigna, real, objetiva e oportuna, que sirva aos diferentes tipos de
usuários. Através do processo de auditoria, a entidade busca um
profissional, independente da organização, que lhe possa agregar essa
credibilidade requerida pelos usuários da informação.
Em
resumo, com a falta de harmonização contábil, a falta de especificidade
das normas existentes e a conseqüente margem de interpretação e
arbitrariedade na aplicação que isso permite, pode-se identificar um
problema de comunicação que afeta os emissores da informação contábil e
muito mais seus usuários.
3. O ESTÁGIO DA CONTABILIDADE CRIATIVA COMO FENÔMENO CONTÁBIL
Muitos
são os fatores que favorecem o exercício da criatividade contábil, mas
talvez o maior dos incentivos seja a impunidade, em todos os sentidos
(jurídico, social, mercantil, etc.) do manipulador da informação. Os
auditores citam as seguintes causas como origem da contabilidade
criativa:
a) Características dos princípios e normas contábeis:
• existência de múltiplas estimativas;b) Características sociais e de comportamento humano:
• flexibilidade, arbitrariedade e subjetividade na aplicação;
• diferentes, porém válidas, interpretações dos princípios e normas contábeis;
• conceito base de Imagem Fidedigna pouco claro ou indeterminado; e
• cuidados da administração na aplicação de princípios como prudência, confrontação de receitas e despesas e uniformidade.
• valores éticos e culturais; e
• atitude do administrador diante da fraude.
Como
se pode observar, para a prática da contabilidade criativa, o gerente
utiliza, principalmente, a flexibilidade dos princípios e normas
contábeis a que a empresa se obriga. Mesmo apresentando certas
restrições, no que se refere à elaboração, tratamento e apresentação da
informação contábil/financeira, em muitos casos contempla a prudência
para a escolha dos procedimentos que melhor se adaptem aos requerimentos
estratégicos da organização, algumas vezes em detrimento dos interesses
dos usuários da informação.
A
contabilidade criativa tem se desenvolvido em todas as áreas, sendo
cada vez mais comum, com práticas que têm sido cada vez mais complexas,
demandando de seus criadores profundos e detalhados conhecimentos
técnicos e tornando mais difícil sua identificação. De um lado, parte
dos administradores e gerentes da empresa utiliza a informação contábil
para mostrar a cara que desejam que seus usuários conheçam, mesmo que
esta não seja a mais fidedigna. Por outro lado, diversos usuários se
valem da informação contábil e financeira produzida e divulgada pela
empresa, mesmo que alguns dados nem sempre estejam presentes, ou até
estejam apresentados de maneira confusa para dificultar sua compreensão.
3.1 Uma revisão bibliográfica sobre o tema
Antes
de abordar os conceitos técnicos específicos utilizados neste trabalho,
é conveniente definir alguns termos que se consideram fundamentais. O
Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa, do professor Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira, define Auditoria como "Exame analítico e pericial que segue o desenvolvimento das operações contábeis, desde o início até o balanço". Gestão, por sua parte, é definida como "Ato de gerir; gerência, ou administração".
Uma
das correntes que estuda a Contabilidade criativa, mais especificamente
a anglo-saxônica, a define como um conjunto de técnicas e práticas
realizadas por parte de um gestor com a finalidade de manipular e obter
um nível de resultados (lucros ou prejuízos) desejado. Outros a definem
como a seleção das melhores alternativas, válidas do ponto de vista da
norma aplicável, utilizando-a como sinônimo de estratégias criativas.
Estes extremos, passando por diferentes estágios intermediários,
evidenciam que uma definição consensual é praticamente impossível.
O IFAC (1997), define que "O
objetivo de uma auditoria das demonstrações contábeis é habilitar o
auditor a expressar uma opinião sobre se as demons-trações foram
preparadas, em todos seus aspectos relevantes, de acordo com uma
estrutura conceitual identificada para relatórios contábeis." IBRACON (1998, p. 23).
O
termo gestão normalmente é associado a administração, e algumas vezes
utilizado como seu sinônimo. Para o professor NAKAGAWA (1987, p. 50), da
Universidade de São Paulo, o termo gestão tem a conotação da palavra inglesa manage, permitindo deduzir-se o envolvimento do ato de conduzir ou gerenciar. Esse autor define gestão como "a atividade de conduzir uma empresa ao alcance de um resultado desejado (planejado) por ela, apesar das dificuldades".
Por
outro lado, se revisarmos, no contexto do Direito Internacional, o
significado etimológico e jurídico da palavra fraude, encontraremos que
se refere à tergiversação da verdade com intenção de enganar e pela qual
se causam danos a terceiros, que normalmente são de caráter econômico.
Em nossa opinião, qualquer manipulação da informação contábil que
contenha uma distorção na conformação correta desta deve ser entendida
como uma espécie de fraude.
A fraude é definida nas Normas Internacionais de Auditoria (IFAC, Tema 240, p. 53) como: "um
ato intencional por parte de um ou mais indivíduos dentre os membros
administrativos, empregados ou terceiros, que resulta em declarações
falsas das demonstrações contábeis". Feitas essas considerações, é conveniente revisar o que alguns autores definem como Earnings Management para poder entender o amplo sentido que este termo envolve, e assim poder sustentar as afirmações finais.
De
forma geral, o termo em questão tem sido utilizado para referir-se ao
processo mediante o qual os contadores aplicam os conhecimentos da norma
contábil para manipular, de acordo com sua conveniência, os valores das
demonstrações contábeis. Vários autores, citados por AMAT (1997, p.
11-12), expõem seus argumentos e definem o termo desde suas diferentes
perspectivas, ou seja, de jornalista, especialista contábil, analista de
investimentos e acadêmicos, tal como se mostra a seguir.
Para
o jornalista econômico GRIFFITHS (1986, p. 1), a contabilidade criativa
tem um singular significado. Apesar de não ser um especialista da área
contábil, consegue apresentar uma definição muito coerente com a de
autores reconhecidos na área: "Todas as empresas do país estão
escondendo seus resultados. Os resultados anuais se baseiam em livros
que têm sido 'cozinhados' ou 'completamente assados'. As demonstrações
apresentadas duas vezes ao ano ao público investidor têm sido todas
manipuladas para proteger os culpados. ... De fato esta fraude é
completamente legítima. É a contabilidade criativa".
Por outro lado, o especialista contábil JAMESON (1988, p. 8-9) afirma: "O
processo contábil consiste em tratar com diferentes tipos de opiniões e
resolver conflitos entre aproximações diferentes, para apresentação dos
resultados, dos fatos e transações financeiras. Essa flexibilidade
facilita a manipulação, mentira e tergiversação. Estas atividades -
praticadas por elementos menos escrupulosos da profissão contábil -
começam a ser conhecidas como Contabilidade criativa".
Outra
perspectiva diferente é apresentada por SMITH (1992, p. 4-6), que,
baseando-se em sua experiência como analista de investimentos, afirma: "Nos
dá a impressão que grande parte do aparente crescimento, ocorrido no
final dos anos 80, tenha sido mais um resultado da manipulação contábil
do que um verdadeiro crescimento econômico, e queremos expor as
principais técnicas utilizadas e dar alguns exemplos de empresas que as
estão utilizando."
Nesta
análise não pode ficar de fora o ponto de vista de um acadêmico. Neste
sentido, NASER (1993, p. 2) define a contabilidade criativa como: "a
transformação das cifras da contabilidade financeira uma vez que são, na
atualidade, o que se deseja que sejam, aproveitando as normas
existentes e/ou ignorando algumas delas".
O
próprio AMAT (1997, p. 9-11) expõe que a Contabilidade criativa
consiste na manipulação que se faz da informação contábil,
aproveitando-se dos vazios das normas existentes e as possíveis
alternativas que têm o gerente à sua disposição sobre as diferentes
práticas de avaliação utilizadas.
Como
se pode notar, até este ponto todos os autores citados entendem que
existe manipulação da "verdadeira" informação, alegando-se causas ou
motivos de questionável aceitação do ponto de vista da ética
profissional, qualquer que seja a área de atividade.
Também
se observa expressamente em forma subjacente nas afirmações dos autores
anteriormente citados, a referência ao não cumprimento de certos
parâmetros e a alusão à fraude, ambos relacionados amplamente com
valores éticos. Mais especificamente, por exemplo, GRIFFITHS (1988, p.
11-14) assinala em seu artigo frases como "escondendo benefícios",
"livros contábeis cozinhados ou assados", "as cifras que se mostram aos
investidores têm sido manipuladas para proteger os culpados".
Possivelmente, essas frases, comuns nas definições dos autores, servem
para suportar com muita força a hipótese da grande implicação dos
valores éticos dentro da contabilidade criativa, mesmo que não seja
difícil encontrar quem se negue a admiti-lo.
GRIFFITHS
(1988), citado por LAINEZ (1999, p. 17), apresenta a contabilidade
criativa em uma posição intermediária entre o que é legal e o que é
ético; entre a criatividade e a fraude contábil. Griffiths ainda utiliza
o adjetivo "artimanhas", de forma pejorativa, para definir a
contabilidade criativa e acaba por afirmar que tais artimanhas "são
legítimas e não infringem as regras do jogo", abrindo mais a brecha que
separa a norma de seu espírito em qualquer âmbito de aplicação.
GRIFFITHS (1995, p. 20-24) também descreve a Contabilidade criativa como
a manipulação da realidade da empresa para se chegar em uma informação
que reflita a situação desejada e não a real.
Por sua parte, JAMESON op. cit.
faz uma reflexão mais coerente com nosso ponto de vista ético, ao
afirmar que a contabilidade criativa opera embaixo da sombra da lei e
das normas contábeis, e que por isso está em contradição com o espírito
de ambas, qualificando-a como uma prática, no mínimo, inadequada.
Outros
autores que têm escrito mais recentemente sobre a contabilidade
criativa apresentam posições um pouco mais radicais. Da mesma forma que
Griffiths, Jameson e Amat, MONTERREY em 1997, em seminário apresentado
em Madrid - Espanha - sustentou que a contabilidade criativa está
formada pela manipulação de valores contábeis através da flexibilidade,
imprecisão ou inexistência de normas contábeis, que são utilizadas
individualmente ou em conjunto, para obter e apresentar os valores
desejados nas demonstrações contábeis, o que não é nada novo. Contudo,
agrega Monterrey que a prática da contabilidade criativa exige a não
aplicação das normas e princípios contábeis ou o abandono de sua
aplicação uniforme; essa posição é diferente da oferecida pelos autores
anteriores que consideram a contabilidade criativa dentro da margem de
cumprimento da norma contábil aplicável.
Se
nos referirmos ao significado jurídico e à origem etimológica da
palavra fraude, apresentada previamente, em seu conceito aparecem as
mesmas palavras que se utilizam para descrever a contabilidade criativa.
No sentido jurídico da palavra fraude, deve existir a culpa e/ou
culpado. Poderíamos, então, afirmar que este culpado, no contexto da
contabilidade criativa, se refere ao gestor da empresa? Será que quando o
autor afirma na frase "escondendo resultados", isso deve ou pode ser
interpretado como uma forma de ocultar a verdade para enganar ou
prejudicar terceiros? Como vemos, o debate a esse respeito parece ser
sumamente controverso, contudo cremos que poderá ser amenizado se a
análise restringir-se ao campo da ética profissional.
O
conceito de fraude antes tratado, que corresponde à premissa básica
deste estudo, coincide completamente com o desenvolvimento das Normas
Internacionais de Auditoria do IFAC que estabelecem que "Ao planejar e
executar procedimentos de auditoria e ao avaliar e relatar seus
resultados, o auditor deve considerar o risco de distorções relevantes
nas demonstrações contábeis, como resultado de fraude ou erro." O mesmo texto, na referida Norma Internacional de Auditoria, estabelece que o termo fraude "refere-se
a um ato intencional por parte de um ou mais indivíduos dentre os
membros administrativos, empregados ou terceiros, que resulta em
declarações falsas das demonstrações contábeis." Agrega, também, que a fraude pode envolver:
• manipulação, falsificação ou alteração de registros ou documentos;
• apropriação indébita de ativos;
• supressão ou omissão dos efeitos de transações nos registros;
• registro de transações sem comprovação; e
• aplicação indevida de políticas contábeis.
Por sua parte, JAMESON op. cit.
identifica a contabilidade criativa dentro dos conflitos que podem
existir nas diversas alternativas sob as quais o gestor ou contador
podem construir as demonstrações contábeis. Se observarmos a
flexibilidade entre os diversos critérios que o autor cita como fonte de
manipulação para consumar o "engano" contábil, talvez devêssemos estar
completamente de acordo. Contudo, se colocarmos como parâmetro o "dever
ser", guiado pelos princípios e valores éticos do profissional, é
possível que o gestor possa diferenciar facilmente entre decisões
contábeis e arbitrariedade.
É oportuno considerar que a contabilidade criativa está sempre localizada entre: a)
a existência de normas, regras ou parâmetros inexatos, pouco
específicos ou pouco detalhados que permitem sua diferenciada
interpretação e, por conseqüência, sua particular aplicação e b) a
inexistência de tais preceitos normativos; é possível que os organismos
nacionais, colegiados ou associações profissionais regulem determinadas
práticas com finalidade puramente econômica e não ética. Isso significa
o mesmo que dizer que a contabilidade criativa pode ser originada por
uma lei e/ou norma/regulamento e também pela ausência desses
instrumentos legais.
Para
LAINEZ & CALLAO (1999, p. 28-31), existe um componente adicional
que deve ser considerado ao estudar a contabilidade criativa e que, no
nosso modo de ver, complica a análise desse conceito. Assinalam os
autores que a existência da contabilidade criativa está determinada pela
flexibilidade e subjetividade da norma; contudo, acrescentam que o
componente fundamental que determina a existência dessa contabilidade
criativa é a intenção do emissor da informação ao fazer uso dessa
flexibilidade, subjetividade, dubiedade e imprecisão para obter os
resultados desejados. Isso significa dizer que é praticamente impossível
identificar a contabilidade criativa nas demonstrações contábeis. A
análise da intenção de quem constrói e apresenta resultado manipulado é
altamente subjetiva e sempre será um componente que se presume, mas que
raramente se pode comprovar.
Até
o presente tem-se a contabilidade criativa como uma atividade
inadequada e de pouca aceitação, principalmente quando se considera o
efeito distorcido que provoca nas informações contábeis. Alguns
organismos como a Security and Exchange Commission (SEC), o American
Institute of Certified Public Accountants (AICPA) e o International
Federation of Accountants (IFAC) estão trabalhando para limitar e
reduzir o crescimento da prática da contabilidade criativa, já que
consideram que sua utilização pode ter efeitos perniciosos
consideráveis, inclusive no âmbito macroeconômico, como os que estão
presenciando, por exemplo, os Estados Unidos da América com os
escândalos contábeis da Enron e WorldCom, entre outros não menos
importantes. Isso nos permite inferir que será muito difícil descobrir
aqueles que, valendo-se de seus apurados conhecimentos
técnicos-contábeis, manipulam os dados da entidade para obter e
apresentar situações irreais.
Acreditamos
que a intenção representa um elemento importante para qualificar as
práticas criativas como "más ou piores", pois isso representa um
agravante e não um elemento que permita diferenciar os tipos de
contabilidade criativa. A dificuldade ou impossibilidade de identificar a
intenção dos gestores nos leva a não considerar este elemento, apesar
de reconhecer sua grande importância.
Para
todos os autores citados, e outros não incluídos neste trabalho, parece
ser coincidente que o termo "manipulação de resultados" associado à
contabilidade criativa está identificado por dois fatores fundamentais:
• resultado de uma atitude consciente ou produto da vontade de manipular as demonstrações contábeis; ou seja, apresenta-se uma informação que não coincide com a que se poderia qualificar como "mais objetiva". Por esta razão, o objetivo dessa prática é confundir ou enganar os usuários acerca da situação real da entidade; e
• para todos os autores, a contabilidade criativa é vista como uma concepção pejorativa da atividade e que contraria os princípios da ética profissional.
Por
outro lado, CANO (2002, p. 2-3) estabelece que existem outros dois
aspectos ou fatores que denotam as diferenças nas definições dos
diferentes autores. Os primeiros desses fatores são denominados, pelo
autor, "manipulação real" e "manipulação contábil", que a seguir são
explicados: "Determinados autores incluem em suas definições tanto as decisões estritamente contábeis
- por exemplo, aquelas referidas na eleição de critérios contábeis ou
as estimativas necessárias para levar a cabo a contabilidade (métodos de
amortização, métodos de avaliação de estoques, ativação ou não de
despesas...), como aquelas que teriam um efeito nas transações reais e
não só em seu reflexo contábil (redução de orçamento, de despesas,
decisões sobre capital circulante líquido, postergação de
investimentos...). Outros autores, pelo contrário, consideram como
contabilidade criativa somente as alterações estritamente contábeis,
considerando as decisões sobre as transações reais como uma atividade
lícita por parte dos gestores, totalmente independente dos artifícios
contábeis". (tradução livre)
O
segundo dos fatores diferenciadores dos conceitos dos autores
apresentados é o que se refere ao alcance das práticas de contabilidade
criativa. Assim, por um lado alguns autores consideram que devem
definir-se como práticas criativas aqueles comportamentos que, mesmo com
a transgressão ao espírito da norma contábil, não atentem expressamente
contra seu conteúdo. Exemplo disso é a utilização de lacunas legais
existentes ou de ambigüidade em sua interpretação. Por outro lado,
outros autores consideram como contabilidade criativa não só aquelas
práticas de interpretação conveniente das normas, mas também aquelas
ações que infringem ou ignoram tais normas. Pesquisas empíricas
realizadas em países chamados "do primeiro mundo" destacam que, dentro
das principais motivações para manipulação contábil, os incentivos
econômicos, tanto para os gestores como para as próprias empresas, são
os mais freqüentes impulsionadores da contabilidade criativa. Entre os
incentivos mais comuns podem-se mencionar os seguintes exemplos:
1. Obtenção de benefícios diretos sobre os resultados alcançados, margens das vendas, participação no mercado;
2. Obtenção de concessões, bonificações e prêmios extras;
3. Melhoria da imagem para inclusão no mercado financeiro (bolsas de valores e financiamentos externos);
4. Obtenção ou manutenção de subvenções para a indústria, ramo de atividade ou setor;
5. Alcançar medidas de proteção das agências governamentais e organismos internacionais de financiamento;
6. Obtenção de benefícios fiscais através da isenção e redução das bases de tributação;
7. Controle de dividendos; e
8. Estratégias competitivas e de mercado, além de outras não menos importantes.
Parece
que será muito difícil justificar a boa intenção dos gestores ou
profissionais da contabilidade no sentido de manipular dados que busquem
uma suposta "imagem mais fidedigna do patrimônio". As questões que se
poderiam colocar são: Para quem e sob quais argumentos as demonstrações
contábeis serão mais confiáveis? Será possível haver homogeneidade na
informação contábil?
4. CONSIDERAÇÕES DE CARÁTER ÉTICO EM RELAÇÃO À CONTABILIDADE CRIATIVA
É
evidente que o desenvolvimento da atividade profissional dos auditores
requer um componente comportamental. Muitas vezes, o processo de tomada
de decisões pode estar mais ligado aos princípios e valores éticos
elementares do que aos aspectos técnicos. Continuamente o auditor é
submetido a questões de caráter ético, devendo adotar uma de várias
alternativas de decisão, muitas vezes assumindo riscos relacionados com a
boa imagem do profissional.
A
ética é um princípio fundamental e necessário para o bom funcionamento
da sociedade, especialmente para o exercício de diferentes profissões
entre as quais se inclui a do auditor. Entendemos que a formação ética
de um profissional definirá sua conduta no futuro e isso,
conseqüentemente, se refletirá na cultura e respectiva saúde econômica
de seu país. Tal como escreve KNECHEL (1997, p. 422), "uma das
restrições mais importantes que tem a pessoa que toma decisão na hora de
fazê-lo é seu código pessoal de ética ou moral. A ética pessoal não
muda a natureza do processo de auditoria, mas a sensação individual de
se fazer as coisas corretamente e não se equivocar terá um impacto
direto na hora de definir o problema, estudar os critérios e avaliar as
alternativas possíveis em cada decisão" (tradução livre). Por isso,
pode-se afirmar que o comportamento ético é bastante relevante para se
poder entender o conceito abstrato, muito utilizado pelo auditor, que é o
juízo profissional.
A
pesquisa ética se concentra na solução dos potenciais conflitos éticos
que são produzidos como resultado da confluência de diferentes
interesses sobrepostos, o qual tem sido denominado pelos pesquisadores
como "o dilema ético". Nesse sentido, podemos estabelecer uma relação
direta e proporcional entre o crescimento das empresas e a complexidade
de suas operações com o aumento de demandas e litígios contra os
auditores.
Como demonstrado na primeira parte, a inclusão de práticas criativas de
contabilidade nas demonstrações contábeis das empresas pode ser um
problema legal, técnico de interpretação ou ético moral. Cada uma dessas
posições é defendida por diferentes autores. Depois das considerações
éticas descritas neste ponto, o que parece ser claro é que em todos os
casos o componente ético-moral está presente, ou seja, tanto nos
conflitos de interpretação dos aspectos técnicos quanto nos de aplicação
e cumprimento das normas legais.
Neste
sentido, segundo WILLIANSON (1990), citado por SIERRA e outros (2001,
p. 47-59), existem três níveis principais de responsabilidade que
sustentam um sistema de disciplina:
a) a responsabilidade legal que é imposta pelos códigos de conduta da sociedade como requisito mínimo para quem recebe um reconhecimento profissional;Por outro lado, CARMICHAEL e outros (1996, p. 46) identificam cinco preceitos chamados por eles "Princípios da Ética" que, como veremos, se adaptam perfeitamente ao exercício profissional do auditor. Estes preceitos são: a) Independência, integridade e objetividade; b) normas gerais e técnicas; c) responsabilidade com seus clientes; d) responsabilidade com os colegas e; e) outras responsabilidades e práticas.
b) a responsabilidade moral que são os códigos de conduta que as pessoas se impõem a si mesmas, normalmente de forma consensual. Essa responsabilidade exige um padrão de conduta superior ao requerido pela responsabilidade ética. Pode ser de caráter individual ou de uma associação de profissionais, como as empresas de auditoria; e
c) a responsabilidade ética, que é a que se impõe a um conjunto de profissionais sobre seus membros para assunção voluntária de responsabilidades, pelo interesse público, diante dos colegas, clientes e a comunidade (Códigos de Ética Profissional).
Outros
conceitos que devem ser citados são os códigos de ética descritos pelos
Guias de Auditoria publicados pelo IFAC, os quais estão orientados no
sentido de melhorar a qualidade dos trabalhos de auditoria, objetivando
satisfazer as quatro necessidades principais dos clientes e os usuários
em geral, ou seja: 1) Credibilidade; 2) Profissionalismo; 3) Qualidade
dos serviços; e 4) Confiança.
SHAFER et al.
(2001, p. 256) afirmam que os valores pessoais exercem uma notável
influência sobre a tomada de decisões no contexto das organizações e dos
negócios. O efeito potencial que têm os valores éticos nos modelos de
decisão gerencial e pessoal sobre os modelos de decisão empregados é
amplamente reconhecido na atualidade, demonstrando a estreita relação
que têm as práticas criativas com o sistema de crenças e valores dos
gestores e da própria entidade, e todos eles exercem um efeito
significativo sobre o trabalho do auditor.
5. CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE DO AUDITOR
O
termo "Responsabilidade" está muito relacionado à atividade do auditor,
e falar de um sem mencionar o outro seria muito difícil. No âmbito
internacional, o termo inglês Accountability parece ser o
mais indicado para definir a responsabilidade dentro do âmbito da
atividade do auditor independente. Para DÁVILA-GUZMÁN (1991, p. 18), responsabilidade:
"É a obrigação de responder a uma tarefa que lhe tenha sido conferida e
pressupõe a existência de, pelo menos, duas pessoas: a que confere ou
outorga a responsabilidade e a que aceita com a obrigação de prestar
contas sobre a maneira como a exerceu." Acrescenta em seguida o mesmo autor que "Prestação
de contas é a obrigação assumida, por aqueles que exercem autoridade,
de reportar sobre a forma como a autoridade foi exercida." (Traduções livres)
No
trabalho do auditor, a norma internacional exige a apresentação de um
relatório ou parecer com a opinião imparcial e independente sobre o
resultado da revisão efetuada, o que se pode considerar como a prestação
de contas do auditor.
A
importância de alguns fracassos empresariais acompanhados de
irregularidades na apresentação da informação contábil e financeira
referente à empresa tem conseguido macular a imagem de objetividade e
independência do auditor e tem sensibilizado a opinião pública,
fundamentando sérias dúvidas sobre a capacidade profissional dos
auditores e da responsabilidade que se espera que assumam diante de seus
atos e omissões. Isso é o que afirma Juan del CID (1994, p. 827).
Na
Norma Internacional do IFAC está escrito que os auditores serão
responsáveis por todos os prejuízos causados a terceiros como
conseqüência do descumprimento de suas obrigações profissionais,
entendendo-se por obrigações profissionais o cumprimento rigoroso das
normas que regem o desenvolvimento da atividade profissional; contudo, a
falta de especificações sobre as mencionadas obrigações e os casos de
descumprimento que ocasionam responsabilidade não estão claramente
definidos, não só nas normas de caráter nacional de cada país, mas
também na norma internacional do IFAC que tem sido utilizada como
modelo.
Devemos
destacar que a mencionada norma descreve como objeto de auditoria a
emissão de um relatório, com a opinião profissional sobre a fidelidade
da informação prestada pela administração, a fim de que seja avaliada e conhecida por terceiros.
Isso permite afirmar que no trabalho do auditor está implícito seu
caráter social, pois considera a necessidade de responder às
expectativas dos usuários da informação contábil e financeira.
Como
dito anteriormente, os auditores não aceitam a responsabilidade pelos
fracassos empresariais, nem sequer a relação desses fracassos com o
processo de auditoria. Tampouco aceitam a responsabilidade pela emissão
de informação "manipulada com dados falsos" com a utilização da
Contabilidade criativa, o que poderia ser considerado como conduta
fraudulenta, tal como foi descrito no início deste trabalho. Para os
usuários, de outro lado, a percepção sobre a responsabilidade dos
auditores é mais que evidente. Na maioria dos casos, quando os auditores
são questionados sobre os fracassos empresariais de seus clientes, a
reação instintiva os leva a declarar que a administração da empresa é de
inteira responsabilidade do cliente e que seu fracasso é oriundo de
práticas de gestão; contudo, a diferença entre as expectativas geradas
pelo auditor com seu trabalho e as esperadas pelos usuários parecem cada
dia mais distantes.
Para os auditores parece estar bastante clara a delimitação de responsabilidades, contudo é evidente a existência de um "gap"
ou diferença, com respeito à responsabilidade que os usuários esperam
deles por seu trabalho profissional. Atualmente se discute a necessidade
de definição clara da responsabilidade dos auditores nos fracassos
empresariais de seus clientes. Apesar de não estarem obrigados a
evitá-los, pode se dizer que os auditores têm uma grande
responsabilidade social, e também com seu cliente, de identificar
possíveis indicadores de fracassos para alertar a própria administração e
seus usuários.
É
possível que diante de uma situação delicada a empresa proceda de
maneira mais agressiva, podendo recuperar-se ou falir. Neste caso, o
auditor está obrigado a reconhecer que terá sua responsabilidade se não
alertar em seu relatório uma possível conseqüência negativa como produto
da agressividade da Direção. Lamentavelmente, o problema discutido é de
caráter conceitual apenas para os pesquisadores e acadêmicos; para os
auditores prevalece o interesse profissional e isso pode ser entendido
como corporativismo.
Quando
se discute sobre os termos de responsabilidade dos auditores e as
diferentes expectativas sobre seu trabalho, é importante destacar a
definição de alguns aspectos como: 1) a responsabilidade que tem e a que
aceita o auditor pela detecção e comunicação de fraudes e
irregularidades; 2) posição e imagem independente do auditor com seus
clientes frente a isso e a comunidade em geral; 3) compromisso de
serviços públicos dos auditores ou responsabilidade social; e 4)
significado da utilidade da informação para clientes e usuários
externos.
Mesmo
que pareça estar claro para os auditores, de acordo com as normas
profissionais emitidas no âmbito internacional, o fato é que os
auditores não têm assumido nenhum tipo de responsabilidade pela não
detecção de erros e irregularidades que provoquem fraudes. Segundo a
norma de auditoria SAS 82 e 993,
só em caso de tais irregularidades atingirem materialidade
significativa, o auditor assume a responsabilidade pela não detecção.
Contudo, a imprecisão utilizada para definir este ponto tem sido objeto
de grandes debates.
Não
podemos nos esquecer que a profissão de auditor nasceu com a intenção
de cuidar do patrimônio de seus clientes contra manuseios indevidos dos
empregados, objetivo que evoluiu no tempo até converter-se no que
atualmente representa de forma indiscutível: emitir uma opinião
profissional independente sobre a veracidade e fidelidade da informação
contida nas demonstrações contábeis de seus clientes.
Esta
última afirmação é consistente com o fato de que, de acordo com as
próprias normas internacionais da profissão, para chegar à opinião
profissional antes descrita é necessário e obrigatório elaborar um plano
de auditoria que possa detectar irregularidades significativas,
escusando-se de responsabilidade pela não detecção de outras de menor
importância. É possível que estes tipos de divergências, distâncias,
diferenças de princípios contábeis sejam diminuídos se se fizer uma
revisão do caráter autoregulador da profissão.
Cabe
ressaltar que na atualidade, talvez como uma forma de resposta diante
desta marcada e evidente diferença de expectativa, ou simplesmente uma
nova fonte de receita, algumas empresas de auditoria como Ernst &
Young e Coopers & Lybrand, atualmente PricewaterhouseCoopers,
oferecem serviços específicos para detectar e prevenir fraudes. Como é
lógico, o marcado desenvolvimento da profissão nos últimos anos gerou as
correspondentes expectativas nos clientes e usuários na mesma proporção
que a velocidade do dito crescimento e desenvolvimento.
Fica
evidente que existe um divórcio entre a função da auditoria
independente e as necessidades de informação dos usuários,
convertendo-se em um problema da profissão que ultrapassa fronteiras.
Mesmo assim, a existência de práticas criativas que desvirtuam o
objetivo descrito na norma internacional de auditoria representa um dos
mais importantes problemas atuais da profissão do auditor,
principalmente se se considerar sua responsabilidade social assumida ou
aquela que se espera que deveriam assumir.
5.1 - O papel do auditor frente ao fenômeno da Contabilidade criativa
Para
analisar a relação que guarda o auditor com a contabilidade criativa, é
importante definir quais são as possibilidades de manipulação das
informações contábeis. Os incentivos que podem levar os administradores a
realizar práticas criativas, com a intenção de mostrar a seus usuários
uma imagem diferente da "real", são múltiplos, contudo podem ser
agrupadas em três grandes categorias. Nesse sentido, a empresa pode
optar por mostrar uma imagem melhorada, deteriorada ou estável, em
comparação com a imagem "natural ou real".
Em
nossa opinião, é de ampla aceitação a afirmação de que o profissional
de auditoria desempenha um papel importante no grau de confiança que
depositam os usuários da demonstração contábil e na relativa garantia
que devem suportar as decisões dos entes com base nas demonstrações
auditadas e, inclusive, que representem o suporte do mercado financeiro,
o qual pode evidenciar-se se estudarmos o conteúdo do parecer do
auditor, ao menos em algumas de suas frases mais importantes.
Os
conhecedores da atividade de auditoria entendem com facilidade o
alcance da opinião do auditor; essas pessoas, normalmente, sabem como
interpretar e tratar cada parágrafo do parecer do auditor. Contudo, é
bastante comum entre os usuários menos advertidos considerar, por
exemplo, um parecer limpo ou sem ressalvas como uma garantia total de
que todas as demonstrações contábeis que o acompanham são corretas e
exatas. Talvez isso se deva ao conteúdo e significado altamente técnico
das frases que compõem o parecer padrão tais como: "Em nossa
opinião..."; "...nossos exames foram conduzidos de acordo";
"...considerando a relevância dos saldos...".
Tanto
para os usuários conhecedores dos aspectos técnicos como para os menos
advertidos, o trabalho do auditor representa uma garantia adicional
relativa e independente que lhes permite tomar decisões com maior
confiança do que teriam sobre as demonstrações contábeis não auditadas.
Talvez isso seja conseqüência do significado, tanto técnico como
semântico, de uma frase incluída no parecer do auditor, mais
especificamente quando se afirma que "as demonstrações financeiras
apresentam adequadamente, em todos aspectos relevantes, a posição
patrimonial e financeira ..." oferecendo uma idéia de que tudo está
certo nas contas da entidade.
Diante
dessa afirmação do auditor, os usuários passam a ter a sensação de
segurança de que as demonstrações contábeis não contém manipulações e
isso pode lhes assegurar a confiança necessária para tomada de decisões.
Para enfatizar a idéia, o auditor conclui o parágrafo citado de seu
parecer dizendo que as demonstrações contábeis estão "de acordo com os
princípios fundamentais de contabilidade" ou "de acordo com as práticas
emanadas da legislação societária", "aplicados de forma consistente ou
uniforme com os aplicados no exercício anterior", o que permite a seus
usuários realizar qualquer análise comparativa, tanto em termos
relativos como absolutos, com garantia de que haverá continuidade.
É
nosso entendimento que o referido parecer apresenta indicações de
obsoletismo diante do fenômeno da contabilidade criativa. Esse
entendimento se sustenta na constatação do significado da contabilidade
criativa e de seus efeitos no poder informativo dos relatórios contábeis
e financeiros das entidades, onde observamos perplexos a falta de
qualquer referência a esse tipo de prática. Nossa afirmação anterior
consegue sustentação nas idéias de autores anteriormente citados, mais
especificamente Monterrey, quando afirma que a prática da contabilidade
criativa exige o descumprimento dos princípios e normas contábeis ou
abandono da aplicação uniforme dos mesmos. Esta situação exigiria
parágrafos de ênfase ou ressalvas na opinião do auditor, claro que no
caso de alterações que pudessem ser consideradas relevantes.
Diante
da generalização de práticas criativas, entendemos que os auditores
deveriam refletir sobre a possibilidade de considerar em seus pareceres a
indicação específica da inexistência de contabilidade criativa, mesmo
entendendo que a opinião do auditor se baseia no relatório por exceção;
isso significa dizer que só se inclui no relatório aquilo que não é
adequado aos princípios e normas contábeis. Entendemos que a necessidade
de se incluir informação referente à existência ou não de práticas
criativas levará o auditor a ajustar seus planos de auditoria,
obrigando-os a buscar provas específicas para detectar tais práticas.
Isso poderá ajudar a diminuir a imagem de "posição cômoda",
"complacente" ou até de "cumplicidade", entendida por muitos cidadãos
diante desse fenômeno, agravada ainda mais pelos últimos escândalos.
As
empresas de auditoria, e os auditores em geral, têm sido alvo de fortes
críticas da opinião pública especializada pela posição tomada diante da
problemática da contabilidade criativa. Alguns justificam suas críticas
a esses profissionais pela atitude complacente, para outros até pouco
profissional, frente à existência de práticas criativas por parte dos
administradores das empresas. Há casos em que os auditores chegaram a
ser acusados de cúmplices dos administradores. A essa discussão pode-se
adicionar que é bastante comum empresas entrarem em processo
concordatário ou falimentar depois de apresentarem pareceres de
auditoria totalmente limpos e sem ressalvas.
A
imensa gama de incentivos existentes ou a falta de sanções específicas
para quem manipula informações contábeis, seja qual for o motivo, nos
permitem inferir que o fenômeno da contabilidade criativa é de difícil
erradicação. A isso deve ser acrescido que no futuro tais práticas
deverão ser cada vez mais sofisticadas, o que nos faz prever que serão
mais difíceis de identificar ou descobrir. Se isso é verdade para os
profissionais da auditoria, o que então pensar das dificuldades que
representarão para os usuários não afeitos às práticas contábeis
tradicionais? Dentre as normas internacionais de auditoria promulgadas
pelo IFAC, existe uma denominada "Fraude e erro", que têm como objetivo o
estabelecimento de normas e a proposição de orientação sobre a
responsabilidade do auditor ao contemplar fraude e erro em uma auditoria
de demonstrações contábeis. A norma de auditoria americana "Statement on Auditing Standard"
(SAS n. 82/1996), publicada pelo Instituto Americano de Contadores
Públicos Certificados (AICPA), estabelece uma clara diferença entre erro
e fraude. A diferença fundamental está na intenção da prática da
irregularidade, tornando-a sinônimo de fraude. Deve-se lembrar que esse
componente "intenção" é considerado por Laínez - citado anteriormente -
como um dos requerimentos básicos que servem para qualificar uma prática
contábil como contabilidade criativa. Por outro lado, o erro deve ser
entendido como simples omissões involuntárias, com efeitos que raramente
são relevantes nas demonstrações contábeis.
A
norma internacional de auditoria do IFAC, anteriormente citada, define o
termo fraude como "Um ato intencional ...". A norma ainda adiciona que "A
fraude pode envolver manipulação, falsificação ou alteração de
registros e documentos; apropriação indébita de ativos; supressão ou
omissão de efeitos de transações nos registros e documentos; registro de
transações sem comprovação e aplicação indevida de políticas contábeis."
Diante
dessa situação, o auditor deve incluir em seu plano de trabalho
procedimentos específicos que visem a identificar, ao menos, a
existência das práticas de contabilidade criativa mais comuns, adaptando
tais provas aos riscos inerentes de cada setor, empresa ou negócio. Na
pressuposição de que o auditor agregue em seus planos de auditoria
procedimentos que permitam identificar práticas criativas, e que a
administração se negue a corrigi-las, o auditor deverá incluir em seu
parecer a respectiva ressalva ou parágrafos de ênfase que julgar
necessários. Dependendo dos valores envolvidos poder-se-á chegar até a
negativa da opinião. Tal posição do auditor exporá a empresa e poderá
fazer com que ela reveja sua posição em relação às práticas de
manipulação da informação contábil.
Algumas
medidas de controle também têm sido sugeridas para minimizar as
possibilidades de práticas de contabilidade criativa. A década de 90 foi
profícua na publicação de documentos relacionados com as novas
filosofias de controle interno nas organizações. Uma das sugestões que
encontramos é a descrição de Comitês de Auditoria com funções
estritamente de controle. Isso poderia minimizar a falta de confiança
que os usuários têm nas demonstrações contábeis preparadas pela
administração e a pouca garantia que os auditores oferecem através de
seus relatórios. Outra ação de controle que tem sido identificada e
utilizada nesse sentido é a de incorporação de pessoas independentes nos
Conselhos de Administração e Fiscal, também denominada de governança
corporativa. Entendemos que a posição do auditor independente frente à
existência da contabilidade criativa nas empresas que audita não é nada
fácil.
Nos
casos em que a prática da contabilidade criativa está dentro da margem
de legalidade, devido à diversidade de alternativas e opções oferecidas
pela contabilidade, o auditor estará tecnicamente impossibilitado de
considerá-la em seu parecer. Na verdade, nesse caso, ao auditor só
restaria utilizar seu relatório como uma forma de pressionar os
administradores, pois, por razões óbvias, tais administradores não
estarão dispostos a ver seus relatórios com ressalvas ou parágrafos que
possam colocar sua contabilidade sob suspeição.
Deve-se
lembrar que, mesmo para o auditor, cujo acesso é irrestrito à
informação que considere necessária para suportar sua opinião - caso
contrário, produzir-se-á uma limitação ao trabalho e, por conseguinte,
uma ressalva - é bastante difícil identificar as práticas de engenharia
contábil. Um dos aspectos que sustentam esta afirmação é a dificuldade
de se identificar a verdadeira intenção que tem o administrador em optar
por um ou por outro princípio ou norma contábil.
Uma
das sugestões feitas por diferentes comissões de auditoria, no âmbito
internacional, é a implementação de Comitês de Auditoria e a
participação de auditores, como conselheiros independentes, nos
Conselhos de Administração, além de elaborar sofisticados códigos de
comportamento ético e promover sua efetiva aplicação. Desta maneira se
evidencia, uma vez mais, que o problema se encontra principalmente no
desvirtuamento dos valores éticos e morais dos profissionais e também da
sociedade na qual se desenvolvem. Em outras palavras, quer nos parecer
que o problema a ser considerado é muito mais de caráter ético do que
técnico.
6. CONCLUSÕES
Pode-se
concluir que o papel do auditor independente, frente ao fenômeno das
práticas de contabilidade criativa nas demonstrações contábeis de seus
clientes, não é nada fácil de definir. De qualquer forma, esse é um tema
que os auditores deverão enfrentar com muita coragem e determinação,
sob pena de aumentar a perda de confiança e o abismo entre o trabalho
por eles produzido e as expectativas dos usuários.
O
problema da contabilidade criativa parece ter sua origem na crise de
valores éticos e morais da sociedade contemporânea, mais do que na
indefinição técnica e normativa. Ainda assim, queremos declarar nossas
esperanças no comportamento ético do profissional que elabora as
demonstrações contábeis, ainda que pareçam pouco otimistas. É possível
inferir que as práticas de contabilidade criativa não são casuais e são
realizadas, na maioria dos casos, para distorcer e modificar a "imagem
fidedigna" de uma entidade, podendo até fazer parte de políticas e
estratégias empresariais no sentido de modificar ou interferir na visão
ou percepção que terão os usuários a partir da informação contábil.
Estamos
convencidos de que a normatização e a harmonização contábil poderão
contribuir de forma muito positiva. A redução de alternativas de escolha
entre princípios e práticas contábeis, entre as regras específicas de
valoração de ativos e passivos, entre os critérios de amortização etc.
deverão influir de forma determinante, principalmente porque a prática
da contabilidade criativa encontra campo fértil na ambigüidade ou
inexistência de normas. Esta cada vez maior limitação à contabilidade
criativa deverá trazer maior qualidade às informações analíticas
disponibilizadas aos usuários, já que limitará, cada vez mais, o
conceito abstrato e subliminar da "imagem fidedigna" do patrimônio.
A
crescente perda de credibilidade e confiança por parte dos clientes e
usuários no trabalho do auditor, muitas vezes motivada pela falta de
qualidade dos trabalhos ou relatórios, tem aumentado as expectativas e
influenciado de forma importante um número cada vez maior de processos
judiciais contra auditores e empresas de auditoria.
O
parecer de auditoria é a principal ferramenta do auditor para cumprir a
norma e relatar o produto de seu trabalho. Atualmente, o parecer de
auditoria não contempla qualquer informação relacionada à Contabilidade
criativa e essa é a principal razão para nosso entendimento de que há
certo grau de obsoletismo em sua forma e conteúdo. Felizmente, nos dias
atuais estão sendo desenvolvidos estudos no sentido de se modificar o
modelo-padrão de parecer que vem sendo utilizado há anos. A inclusão de
frases que indiquem que o trabalho realizado pelo auditor pode ou não
estar considerando práticas de contabilidade criativa deveria constar
das próximas modificações.
Finalmente,
queremos destacar que, pela contribuição que representou, representa e
continuará representando o trabalho dos auditores para a sociedade, os
profissionais dessa área não poderão se furtar a reconhecer que é
chegada a hora de fazer as mudanças que estão sendo requeridas.
Capacitação técnica temos certeza que existe, e de sobra; o momento é de
uma decisão que possa acompanhar a evolução dos negócios e o ritmo da
globalização, sem o ranço de um conservadorismo que está na hora de ser
enfrentado.
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Glossário
Balanço: Demonstração sintética do estado patrimonial de uma empresa ou de uma entidade, através de seus investimentos e da origem desses investimentos. É a evidenciação de equilíbrio de valores e nesta forma de observar pode existir balanço de conta, balanço de grupo de contas, balanço de sistemas etc.
Custo: Compreende a soma dos gastos com bens e serviços aplicados ou consumidos na produção de outros bens ou serviços. O custo é também um gasto, só que reconhecido como tal, isto é, como custo, no momento da utilização dos fatores de produção (bem e serviços), para a fabricação de um produto ou execução de um serviço.
Ex.: o salário do operário, da fábrica, que trabalha na produção de determinado produto.
Custos Diretos: São aqueles que são facilmente atribuíveis a um determinado bem ou serviço, ou seja, são percebidos com clareza em cada produto ou serviço.
Ex.: Matéria prima, mão de obra direta.
Custos Indiretos: São aqueles custos que beneficiam toda a produção de um bem ou serviço. São todos os custos de produção, exceto os materiais diretos e mão-de-obra direta.
Ex.: Aluguel, depreciação, salário da supervisão.
Custos variáveis: São aqueles que estão diretamente relacionados com o volume de produção ou venda. Em termos de custos totais, quanto maior for o volume de produção, maiores serão os custos totais. Em termos unitários, os custos permanecem constantes.
Ex.: Matéria prima
Custos fixos: São aqueles que independem do volume de produção ou venda. Representam a capacidade instalada que a empresa possui para produzir e vender bens ou serviços. Em termos de custos unitários, quanto maior for o volume de produção ou venda, menores serão os custos por unidade. Em termos de custos totais, independem das quantidades produzidas ou vendidas.
Ex.: depreciação, aluguel.
Custos primários: É a soma da mão-de-obra direta e material direto utilizados no processo de produção. Podemos supor que tanto a mão-de-obra direta quanto o material direto, foram os dois primeiros itens de produção e serem identificados e contabilizados. É do interesse da administração da empresa controlar estes dois itens de custo, por serem mais relevantes e por significativos itens do custo total de produção.
Custos semi variáveis: São aqueles que possuem uma parcela fixa e uma variável.
Despesa: Compreende os gastos decorrentes do consumo de bens e da utilização de serviços das áreas administrativa, comercial e financeira, que direta ou indiretamente visa a obtenção de receitas. As despesas são itens que reduzem o lucro e que tem essa característica de representar sacrifício no processo de obtenção de receitas.
Ex.: O salário do vendedor, que irá comercializar o produto.
Despesas Operacionais: São os gastos necessários à manutenção da atividade da empresa.
Despesas Não-Operacionais: São as decorrentes das transações não incluídas nas atividades principais ou acessórias da empresa.
Ganho: Resultado liquido favorável resultante de transações ou eventos não relacionados as operações normais da entidade.
Gasto: Sacrifício financeiro com que a entidade arca para obtenção de um produto, ou serviço qualquer, seja para uso ou consumo:
Ex.: Gasto com compra de matéria-prima, gastos com mão-de-obra tanto da produção como na distribuição.
Investimento: Compreende geralmente os gastos com aquisição de bens de uso da empresa (ativos), ou ainda, aumento de sua vida útil.
Ex.: A compra de um veículo é um investimento e não uma despesa ou custo. No entanto, a perda do valor do veículo em virtude de sua depreciação, representa uma despesa ou custo.
Lucro/Prejuízo: Diferença positiva negativa entre receita e despesa ganhas e perdas.
Perda: Bens ou serviços consumidos de forma anormal ou involuntária. Não deve ser confundida com despesa e nem com custo, exatamente pela sua caracterização de anormalidade e involuntariedade. São itens que vão diretamente à conta de resultado.
Ex.: Perdas com incêndio, obsoletismo de estoques, gastos com mão-de-obra duramente um período de greve.
Receita: Entrada de elementos pare o ativo sob a forma de dinheiro ou de direitos a receber, correspondente normalmente a venda de bens ou serviços. Classificam-se em operacionais e não-operacionais.
Receitas Operacionais: São as receitas provenientes do objeto de exploração da empresa, e classificam-se em: Receita da Atividade Técnica ou Principal e Receita Acessória ou Complementar.
Receita Não-Operacionais: São ingressos provenientes de transações (atípicas ou extraordinárias) não incluídas nas atividades principais ou acessórias da empresa.
Frases de impacto
“Os resultados provêm do aproveitamento das oportunidades e não da solução dos problemas. A solução de problemas só restaura a normalidade. As oportunidades significam explorar novos caminhos”. (Peter Drucker)
“Um excelente sistema de contabilidade gerencial não vai sozinho garantir o sucesso nos mercados de hoje (...). Mas um sistema de contabilidade gerencial ineficaz pode minar o desenvolvimento de produtos, o aprimoramento de processos e os esforços de marketing. Onde um sistema de contabilidade gerencial prevalece, o melhor resultado ocorre quando os administradores entendem a irrelevância do sistema e se desviam dele criando sistemas de informação personalizados”. (Kaplan & Johnson)
"Obsolescência dos sistemas de contabilidade gerencial contemporâneo deve ser uma fonte de grandes problemas para os administradores das grandes organizações diversificadas". (Kaplan & Johnson)
quarta-feira, 9 de abril de 2014
CONTABILIDADE GERENCIAL ESTRATÉGICA: CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO
Gilberto
Grzeszezeszyn
E-mail:
gilbertogr@unicentro.br
Universidade
Estadual do Centro-Oeste
Guarapuava, Pr -
Brasil
Recebido
para publicação em Março de 2005
Aprovado
para publicação em Julho de 2005
Resumo:
Este trabalho aborda a contabilidade gerencial sob o aspecto
estratégico. A
realidade empresarial atual enseja um ambiente de
competitividade no
qual as decisões relacionadas aos objetivos estratégicos
devem ser tomadas
com agilidade e com maior grau de segurança possível.
Desse modo, o
objetivo da pesquisa é demonstrar os vários entendimentos
que se têm sobre o
conceito de contabilidade gerencial estratégica, bem como
caracterizá-la por
meio de práticas e ênfases dadas à informação contábil.
Assim, por se
tratar de uma revisão de literatura sobre a temática, a
metodologia de
pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, tendo por base
artigos publicados
em revistas e livros que abordam esse campo de pesquisa.
Considera-se, ao
final deste trabalho, que a contabilidade gerencial estratégica
pode ser
compreendida como uma resposta ao novo momento econômico
que se instaura em
nível globalizado e que ainda há muito a se pesquisar,
constituindo-se num
campo fértil para novas descobertas.
Palavras-chave:
contabilidade; estratégia; contabilidade estratégica
Abstract: This article deals with the management accounting in
relation to the
strategic aspect. The current business reality
provides a competitive
environment in which the decisions regarding the
strategic goals must be taken
with agility and with the highest level of possible
security. In this way, the
purpose of this research is to examine the several
perceptions about the
concept of strategic management accounting as well as
characterize it by means
of practices and emphasis placed on accounts
information. Thus, this study
presents a review of literature about the topic, from
which it is surveyed and
REVISTA
CAPITAL CIENTÍFICO Guarapuava - P R v. 3 n. 1 p. 09-27 jan/dez. 2005 ISSN
1679-1991
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
discussed published articles from international
magazines and books that
approach this field of research. Concerning the final
considerations to this
investigation, it is pointed out that the strategic
management accounting may
be understood as a new reaction to the new economic
moment which is
established in the globalized level and that this
topic still has a lot to advance
in terms of research, representing a productive field
for new findings.
Key-words: accounting; strategy; strategic management accounting.
1
INTRODUÇÃO
A contabilidade tem
sido, nos últimos anos, questionada a respeito das
informações
prestadas para a gestão de longo prazo das empresas. Freqüentemente, a
informação contábil
é reduzida aos aspectos financeiros e fiscais, sendo estes procedimentos
parametrizados por
normas e legislações tributárias, as quais fazem com que os relatórios
sejam passíveis de
comparação entre uma e outra empresa. Em que pese a importância
inconteste das
normas para o relacionamento da empresa com o mercado, estas, por
vezes, fazem com
que as informações geradas não sejam adequadas para o gerenciamento
interno da
entidade.
Para atender a
administração da empresa, foi tomando corpo ao longo do
tempo, um conjunto
de técnicas de contabilidade voltadas para o fornecimento de
informações, tanto
em nível corporativo, quanto em suas divisões organizacionais, o que
se convencionou
chamar de contabilidade gerencial. Nesse campo da contabilidade, têmse
realizado pesquisas
relacionando-a às temáticas organizacional e comportamental,
abrangendo a
estrutura, o controle gerencial e a estratégia empresarial.
A primeira alusão a
este campo de pesquisa foi feita por Anthony (1972), em
sua obra de 1965,
traduzida para o português. Johnson e Kaplan (1987) criticaram a
predominância de
modelos matemáticos aplicados à contabilidade pela falta de
aplicabilidade dos
resultados das pesquisas e ressaltam a necessidade da contabilidade
repensar as
informações para uma gestão estratégica.
Desse momento em
diante, um artigo de Dent (1990), ganhou relevância no
contexto acadêmico,
do abordar as possibilidades de pesquisas envolvendo a estrutura
organizacional, o
controle gerencial e a estratégia. Nessa década, o tema contabilidade
gerencial
estratégica foi abordado em inúmeros artigos de revistas no exterior,
principalmente na
Europa, onde foram criadas duas novas revistas: Management
Accounting
Research e Journal of Cost Management com intuito de dar vazão à
crescente
produção sobre a
contabilidade gerencial estratégica (SHANK; GOVINDARAJAN,
1997). A abordagem
sobre contabilidade e estratégia foi merecedora de um volume
exclusivo, em 1996,
publicado pelo periódico Management Accounting Research.
No Brasil, há
poucos artigos publicados a respeito, entretanto, recentemente
têm chegado ao
mercado livros cujos títulos incluem os termos “controladoria estratégica”
tais como Oliveira,
Perez Jr. e Silva (2002) e Padoveze (2003), dentre outros, que buscam
uma abordagem para
a contabilidade inclinada à estratégia.
Assim, este
trabalho tem por objetivo realizar uma abordagem conceitual e
caracterizadora por
meio de práticas da contabilidade gerencial estratégica.
Como se trata de
uma revisão de literatura, a metodologia de pesquisa adotada
foi a
bibliográfica, tendo por referencial as literaturas relacionadas à estratégia e
à
contabilidade, na
perspectiva da informação para formulação, planejamento e controle da
estratégia.
Este estudo
apresenta, em seqüência, uma abordagem de gestão estratégica,
diferenças entre
formulação e planejamento estratégico, os conceitos de contabilidade
gerencial,
financeira e contabilidade gerencial estratégica e para finalizar, algumas
práticas
de contabilidade
gerencial estratégica apresentadas em literaturas referenciadas.
2
A DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIA
Segundo Oliveira
(2002), independente do estado da economia do país –
desenvolvida, em
desenvolvimento ou subdesenvolvida – a análise e o acompanhamento
do ambiente
empresarial são necessários para a sobrevivência da empresa.
Nesse contexto, a
gestão das empresas necessita de instrumentos que lhes
possibilite
sobreviver e crescer, sob pena de sucumbir às dificuldades enfrentadas,
ganhando
destaque na
administração de empresas a estratégia empresarial.
A origem do termo
estratégia provém da língua grega, cujo termo original é
strategos
que quer dizer a arte do general, ou seja, as concepções,
planos, ações
engendradas por
este com intuito de vencer o inimigo. A competitividade estabelecida nos
mercados, nos quais
deve-se ter por meta conquistar e manter clientes, sob pena de não
o fazendo, sucumbir
à conquista dos concorrentes, fez com que o termo estratégia fosse
usado na atividade
empresarial. Näsi comenta que:
[...] pelos anos 80, um vasto número
de escolas de pensamento em raciocínio
estratégico foram sendo sujeitadas a
um processo de denominação e
classificação. Por exemplo, Kärlof foi
capaz de encontrar dez, Näsi selecionou
sete, Gilbert et al. listou seis, e
finalmente Mintzberg definiu dez escolas de
pensamento (1999, p. 137, tradução do
autor).
Portanto, definir
estratégia, no atual contexto empresarial, tornou-se complexo.
Vários estudiosos
têm se debruçado sobre o assunto sem necessariamente confluírem
para uma definição
ou conceito de estratégia. Dentre outras definições, abordam-se as
mais evidenciadas
nas literaturas consultadas:
GRZESZEZESZYN,
G.
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
- “Estratégia
empresarial é definida como um caminho ou maneira, ou ação
estabelecida e
adequada para alcançar os objetivos da empresa” (OLIVEIRA,
1988, p. 25).
- Stahl e Grisbi
percebem estratégia como “o conjunto de decisões gerenciais
que relaciona a
organização ao seu ambiente, orienta atividades internas e
determina o
desempenho de longo prazo da organização” (1991 citado por
GUILDING; CRAVENS;
TAYLES, 2000, p. 116, tradução nossa).
- Chandler entende
estratégia como sendo “a determinação das metas e
objetivos de longo
prazo de uma empresa, a adoção de cursos de ação e a
alocação de
recursos necessários para a consecução dessas metas” (1962
citado por Mintzberg,
1978, p. 935, tradução nossa).
- “Estratégia é
criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um conjunto
diferente de
atividades” (PORTER, 1999, p. 63).
Em busca de uma
definição comum, foi elencado um conjunto de elementos
representativos da
estratégia como: um plano que enseja um conjunto de diretrizes; um
pretexto utilizado
para enganar os concorrentes ou competidores; um padrão que se
estabelece pela
uniformidade de comportamento durante um certo período; uma posição
em que a empresa se
coloca no ambiente de modo a continuar ativa; e uma perspectiva,
pois parte de
concepções de uma realidade futura (MINTZBERG; QUINN, 2001).
Anthony e
Govindarajan, considerando todas as definições, diz que há concordância de
que “a estratégia
descreve a direção geral em que uma organização planeja mover-se
para atingir seus
objetivos” (2001, p. 92).
Para Ohmae (1982
citado por GUILDING; CRAVENS; TAYLES, 2000),
estratégia somente
tem razão de existir num ambiente em que há competitividade, em que
a empresa busca
ganhar e sustentar uma vantagem em relação aos concorrentes.
Porter (1991)
associa tática a políticas funcionais ou operacionais, relatando
que a tática está
mais preocupada com os meios para levar a cabo a estratégia. Esta teria
uma maior relação
com a eficácia enquanto aquela estaria mais preocupada com a eficiência.
Contudo, Porter
(1999) comenta que eficácia operacional, que inclui a eficiência, não é
estratégia, embora
seja também essencial. Oliveira, Perez Jr. e Silva (2002) entendem que
tática estaria mais
associada ao controle gerencial, cujos procedimentos buscam assegurar
que os recursos são
obtidos e utilizados eficazmente para que se atinjam os objetivos da
organização. A
despeito das ponderações expostas, ainda Rumelt (1979 citado por
GUILDING; CRAVENS;
TAYLES, 2000, p. 115) e Terreberry dizem que “a estratégia
de um pode ser a
tática de outro; o que é estratégico depende da perspectiva” (1968
citado por
GUILDING; CRAVENS; TAYLES, 2000, p. 115).
2.1
A formulação da estratégia
A formulação da
estratégia tem a ver com a criatividade, a imaginação de
como a empresa deve
interagir com uma realidade complexa para obter vantagens sobre
os demais
competidores. Anthony e Govindarajan (2001) entendem formulação de
estratégias como
algo criativo e inovador, diferenciando-a do planejamento estratégico.
Assim, a estratégia
nasce de um conjunto de experiências e conhecimentos
próprios dos
estrategistas. Estas são pessoas envolvidas, atentas aos seus recursos, que
aprendem
constantemente sobre suas organizações e setores industriais, porém, sabedoras
de que a
perspectiva individual não é suficiente para formulação das estratégias
(PORTER;
MONTGOMERY, 1998).
Deduz-se, então, que estratégia tem a ver com aprendizagem
em toda a
organização. A aprendizagem organizacional consiste em ter os recursos humanos
atentos, com
conhecimento e experiência acumulada, de modo que possam aproveitar
oportunidades,
otimizar as forças, minimizar as fraquezas e as ameaças.
A importância da
formulação de estratégias está na estabilidade que se
proporciona à
empresa, estabelecendo-se rumos, objetivos e gerando sinergia entre as
unidades de
negócios e os seus componentes para que atinjam as metas estipuladas. A
esse respeito,
Porter e Montgomery informam que “a estratégia impõe estabilidade à
organização” (1998,
p. 429).
2.2
Planejamento estratégico
O planejamento é
uma das funções da administração. É importante para que
a empresa
estabeleça as metas de forma quantificada. O planejamento conduz à idéia de
controle sobre os
recursos utilizados de forma que se atinjam as metas e objetivos
anteriormente
estipulados. A relação existente entre formulação da estratégia e planejamento
estratégico tem
seus limites, na maioria das vezes, imperceptíveis. Entretanto, a escolha
dentre as várias
possibilidades de atuação estratégica e a disposição dos gestores é a
origem do
planejamento estratégico.
Para Anthony, “planejamento
estratégico é o processo de decidir sobre as
mudanças de
objetivos da organização, de recursos que a empresa deve usar para atingir
esses objetivos, e
de políticas que devem reger a aquisição e uso desses recursos” (1972,
p. 456). Anthony e
Govindarajan entendem que “[...] é o processo pelo qual se decidem
os programas que a
empresa adotará e a quantidade aproximada de recursos que a empresa
reservará para cada
um desses programas, nos vários anos seguintes [...] é o processo
pelo qual se decide
como implementar uma estratégia” (2001, p. 382).
Oliveira entende
planejamento estratégico como “o processo administrativo
que proporciona
sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser
seguida pela
empresa, visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando
de forma inovadora
e diferenciada” (2002, p. 48). Ainda, considera que os níveis mais
altos da
administração têm a responsabilidade de formular e determinar os cursos de ação
para que sejam
atingidos os objetivos.
“Planejamento
estratégico é o processo que mobiliza a empresa para escolher
e construir seu
futuro” (VASCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001, p. 31). Nessa
definição,
percebe-se uma interação de mais níveis gerenciais para a elaboração,
implantação
GRZESZEZESZYN,
G.
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
e implementação do
plano. Uma maior ou menor participação das gerências depende da
cultura empresarial
interna.
Pode-se dizer que o
conjunto de ações que deverão ser desencadeadas pelos
gestores em todos
os níveis da estrutura organizacional, bem como a alocação dos recursos
necessários para a
sua consecução, compõem o planejamento estratégico. Planejar é
importante para
comunicar a estratégia para toda a organização, direcionar os esforços,
controlar os
resultados por meio de medidas de desempenho, bem como para criar a
sinergia capaz de
conduzir a empresa às metas estratégicas.
O planejamento é
racional, pois age sobre os recursos e possibilidades reais
existentes, para
construir formalmente uma realidade esperada pela formulação estratégica
inicial. Sendo a
estratégia fruto do conhecimento, experiência, visão do setor de atuação,
consumidores,
tecnologia e do aproveitamento de oportunidades, podendo sofrer
mudanças, o
planejamento também deve ser flexível a ponto de absorver as novas
realidades. Assim
como o planejamento estratégico pode mudar devido a influências do
ambiente externo,
também pode propiciar mudanças internas, fazendo com que ocorram
resistências,
principalmente se afetar determinada situação funcional. Daí, a relevância de
uma organização que
aprende e se adapta rapidamente, pois, isso pode vir a ser uma
vantagem
competitiva diante das novas tecnologias.
3
A CONTABILIDADE
A contabilidade
pode ser definida de várias formas segundo as correntes do
pensamento
contábil, notadamente as escolas italiana ou européia e a americana. Esta
escola associa a
contabilidade mais a um sistema de informação econômico-financeira,
destacando o lado
prático enquanto que aquela a enfatiza como ciência e destaca mais o
lado filosófico.
Como
representantes, no Brasil, da escola americana podem-se citar
IUDÍCIBUS, Martins
e Gelbke que entendem contabilidade como “um sistema de
informação e
avaliação destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises
de natureza
econômica, financeira, física e de produtividade, com relação a entidade objeto
de contabilização”
(1990, p. 66). Compreendem sistema de informação como “um conjunto
articulado de
dados, técnicas de acumulação, ajustes e editagens de relatórios.” O sistema
de informação
contábil deve ser capaz de propiciar relatórios diversos além dos exigidos
pela legislação
societária e fiscal.
Como representante,
no Brasil, da escola italiana pode-se citar SÁ, que
conceitua
contabilidade como uma “ciência que estuda os fenômenos patrimoniais,
preocupando-se com
realidades, evidências e comportamentos dos mesmos em relação
à eficácia
funcional das células sociais” (1999, p. 42).
O conceito que mais
destaca o caráter utilitário da contabilidade é o da escola
americana, o qual
será considerado como principal para fins deste trabalho. Logo, a
contabilidade não
só olha o passado da gestão, mas também procura contribuir com o futuro
da empresa por meio
de análises situacionais e projeções que auxiliem a tomada de decisões.
Para Iudícibus
(1994), o objetivo da contabilidade é manter um banco de dados cujas
informações possam
servir de alguma forma a todos os usuários (externos e internos).
3.1
Percepção estratégica dos postulados ambientais da contabilidade
Dentre as
parametrizações contábeis, postulados, princípios e convenções,
observou-se que os
postulados, também chamados de postulados ambientais não restringem
os procedimentos
relacionados ao tratamento contábil dos eventos econômicos. Essa
restrição é imposta
pelos princípios contábeis geralmente aceitos, cujas exceções são as
convenções. Os
postulados contábeis trazem uma compreensão do ambiente empresarial,
o que também
respalda uma abordagem e interpretação estratégica da contabilidade.
Os postulados
ambientais consideram que a empresa é uma organização com
personalidade
própria, composta dos recursos necessários à inteiração com o ambiente,
o que é essencial
para a sua sobrevivência. A esse respeito Iudícibus, Martins e Gelbke
comentam:
[...] os postulados ambientais
enunciam, solenemente, condições sociais,
econômicas e institucionais dentro das
quais a contabilidade atua; escapam ao
restrito domínio da contabilidade,
para inserir-se no mais amplo feudo da sociologia
comercial e do direito, bem como da
economia e outras ciências. Predispõe a
contabilidade, no que se segue a
assumir esta ou aquela postura, embora o
condicionamento não seja tão restrito
quanto se possa imaginar (1990, p. 74).
Têm-se dois
postulados, como premissas das normas contábeis: entidade e
continuidade.
Hendriksen e Van Breda dizem que é importante definir a entidade porque:
“[...] define o
campo de interesse e delimita, assim, os objetivos e atividades possíveis e
os atributos
correspondentes que podem ser escolhidos para inclusão nos relatórios [...] e
pode ajudar a
determinar a melhor maneira de apresentar informações que lhe dizem
respeito” (1999, p.
104).
O simples fato da
existência da entidade a coloca em interação com o
ambiente, por meio
da utilização dos seus recursos. A busca pela manutenção da atividade
da entidade depende
de informações que possibilitem um planejamento que leve em
consideração a
longevidade, dando origem ao postulado da continuidade.
Embora Hendriksen e
Van Breda (1999) acresçam outras interpretações do
postulado da
entidade, a percepção que respalda a visão da entidade em interação com o
ambiente é que,
para a contabilidade, a entidade irá viver por tempo indeterminado até
que existam
evidências em contrário. A contabilidade age como recurso que auxilia na
manutenção da vida
desta. Este postulado complementa o da entidade, sendo também
denominado como da
entidade em continuidade. Enquanto a entidade existir, estará atuando
dentro das quatro
dimensões abordadas anteriormente: jurídica, econômica, organizacional
GRZESZEZESZYN,
G.
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
e social. Considera
que a entidade é capaz de gerar riqueza de forma contínua, por meio
da utilização dos
seus recursos. A utilização dos recursos faz com que a entidade relacionese
com outras
entidades que compõem o mercado (fornecedores, clientes, concorrentes,
governo,
sindicatos, investidores, dentre outros), buscando uma posição na qual possa
estabelecer-se.
O resultado dessa
relação será um desempenho econômico, cujo resultado a
contabilidade
evidenciará por meio de indicadores econômico-financeiros, tanto para os
usuários externos,
observando os princípios contábeis, quanto para os usuários internos,
independentemente
da observância dos princípios contábeis.
3.2
A contabilidade gerencial
A contabilidade
gerencial pode receber diversas definições. As palavraschaves
para o entendimento
da contabilidade gerencial são informação e gestão.
Iudícibus
caracteriza a contabilidade gerencial como:
[...] um enfoque especial conferido às
várias técnicas e procedimentos contábeis
já conhecidos e tratados na
contabilidade financeira, na contabilidade de custos,
na análise de balanços, etc.,
colocados numa perspectiva diferente, num grau
de detalhe mais analítico ou numa
forma de apresentação e classificação
diferenciada, de maneira a auxiliar os
gerentes das entidades em seu processo
decisório (1998, p. 21).
A definição de
Anthony (1972) é mais sintética, porém, não menos significativa,
caracterizando a contabilidade
gerencial como sendo aquela destinada a prover informações
úteis para a
administração. O IFAC, International Federation of Accountants, diz que:
[...] contabilidade gerencial pode ser
definida como o processo de identificação,
medição, acumulação, análise,
preparação, interpretação e comunicação da
informação (financeira e operacional)
usada pela administração para planejar,
avaliar, controlar e assegurar, dentro
de uma organização, o uso dos recursos
com responsabilidade (1998, p. 99, tradução
nossa).
Anthony e
Govindarajan (2001) destacam que a contabilidade gerencial tem
três divisões:
contabilidade de custo total, responsável pelo custeio de produtos e serviços
para fins de
avaliação de estoques, da precificação e da lucratividade dos produtos; a
contabilidade
diferencial, responsável por estimar os custos existentes em condições
alternativas; e o
controle gerencial, responsável pelo controle e medição das variáveis
estratégicas, bem
como de unidades de negócios, dentre outros.
A contabilidade, em
sua origem, era gerencial, haja vista que era realizada
para que os
gestores pudessem ter controle sobre seus bens e orientar suas ações em
vista do futuro.
Além de estar composta em conformidade com o modelo de gestão então
adotado. A contabilidade
permaneceu dessa forma até que houve um movimento do
mercado financeiro
e de capitais que culminou com a padronização da atividade contábil.
As fases e o
contexto histórico em que se desenvolveu a contabilidade gerencial até os
tempos atuais são
abordadas a seguir.
3.2.1 A evolução da
contabilidade gerencial
No final do século
XIX, com o advento das grandes companhias de produção
industrial,
tornaram-se necessárias novas técnicas de controle e custeio dos produtos.
Para Schmidt (2000),
foi nesse momento que uma das primeiras contribuições à
contabilidade
gerencial foi realizada, com a apresentação de algumas formas utilizadas
para calcular o
custo de produção real, incluindo custos indiretos e alocação de despesas
indiretas. Trabalhos
sobre custos de fabricação evidenciaram a preocupação primeira nos
estudos no início
do século XX. Com o crescimento das empresas, mais era exigido da
contabilidade como
fonte de informações e controle dos resultados da gestão. Para Johnson
e Kaplan (1987), um
dos principais elementos do controle e análise dos resultados foi o
retorno sobre os
investimentos, ao qual foram associados os orçamentos flexíveis e os
preços de
transferência. Dada essa realidade, o papel da contabilidade na elaboração de
orçamentos, na
determinação de preços e no controle operacional, dentre outras atividades,
aumentou
sobremaneira.
Segundo Schmidt
(2000), nos anos cinqüenta e sessenta, outros trabalhos
emergiram sobre
orçamento de capital, fluxos de caixa, a influência da informação contábil
sobre o
comportamento dos empregados, a informação contábil para a tomada de decisões
e para a avaliação
de desempenho divisional. Ainda informa que nos anos setenta, as
pesquisas
pautaram-se pela aplicação da estatística para evidenciar as práticas de
contabilidade
gerencial.
Em que pese os
avanços da contabilidade gerencial citados até então, Johnson
e Kaplan (1987)
comentam que as informações dela perderam relevância no contexto da
gestão. Justificam
essa opinião dizendo que a contabilidade financeira está voltada e
parametrizada para
atender aos usuários externos e não aos gestores da entidade, enquanto
que a contabilidade
gerencial foi internalizada a ponto de não vislumbrar o cenário em que
a empresa está
envolta, bem como ser intempestiva para a tomada de decisões. O ambiente
que Johnson e
Kaplan (1987) consideram para as exposições deles está baseado num
mercado de
competição globalizada, cuja tecnologia da informação coloca a empresa em
condições de
concorrer em qualquer lugar do planeta. O IFAC (1998) tem considerado
a evolução da
contabilidade gerencial em quatro estágios distintos, a saber:
a) o estágio um
compreende o período antes de 1950 e enfatiza a determinação
de custos e o
controle financeiro, por meio da utilização de técnicas de
contabilidade de
custos e orçamento;
b) o estágio dois
teve início por volta de 1965, quando deu ênfase ao fornecimento
de informações para
o planejamento e controle, por meio do uso de técnicas
como análise de
decisão e contabilidade por responsabilidade;
GRZESZEZESZYN,
G.
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
c) o estágio três
ocorreu por volta de 1985, quando a atenção voltou-se para a
redução de desperdícios
dos recursos usados nos processos de negócios, por
meio do uso de
técnicas de gerenciamento de custo e análise do processo; e
d) o estágio quatro
teve início por volta de 1995, quando a atenção foi deslocada
para a geração ou
criação de valor por meio do efetivo uso dos recursos, do
uso de tecnologias,
as quais examinam os direcionadores de valor dos clientes,
de valor dos
acionistas e inovação organizacional.
O IFAC (1998)
destaca que cada estágio representa uma evolução da
contabilidade
gerencial em resposta a novas realidades enfrentadas pelas empresas. Desse
modo, é uma
evolução que considera as tecnologias utilizadas até a fase anterior,
acrescendo
algo de novo,
perfazendo uma combinação entre o velho e o novo, para atender ao novo
ambiente gerencial.
3.2.2 Comparação
entre a contabilidade gerencial e a financeira
Abaixo apresenta-se
um quadro comparativo entre contabilidade financeira
e contabilidade
gerencial (HORNGREN, 1985; GARRISON; NOREEN, 2001;
WARREN; REEVE; FEES, 2001; ATKINSON et al., 2000).
QUADRO:
COMPARAÇÃO ENTRE CONTABILIDADE FINANCEIRA E GERENCIAL
Fonte:
Adaptado de Horngren (1985), Garrison e Noreen (2001), Warren,
Reeve e Fess (2001) e
Atkinson et al.
(2000).
Aspecto
Contabilidade financeira Contabilidade gerencial
Público-alvo
Externo: acionistas,
credores,
governo, legisladores,
dentre
outros.
Interno: planejamento,
direção e
motivação, controle e
avaliação
do desempenho.
Ênfase
Conseqüências
financeiras do
passado. Objetividade
e
consistência dos
dados.
Decisões que afetam o
futuro.
Relevância e a
flexibilidade dos
dados.
Informação Precisa,
objetiva. Oportuna, objetiva e subjetiva.
Relatórios Resumidos
com informações
sobre a entidade como
um todo.
Detalhados sobre
setores,
departamentos,
produtos, clientes,
fornecedores, dentre
outros.
Princípios de
contabilidade
geralmente aceitos São
observados. Podem ser observados.
Obrigatoriedade É
obrigatória. Não é obrigatória. Única
Restrição: custo x
benefício.
Orientação Eventos
passados. Eventos futuros.
Implicações
comportamentais
Preocupada com a forma
pela
qual se devem medir e
comunicar eventos
econômicos. Impacto
sobre o
comportamento é
secundário.
Preocupada com a forma
pela
qual os relatórios e
as medidas
influenciarão o
comportamento
dos gerentes.
Delineamento das
atividades
Campo de atuação é
mais
preciso. Menor uso de
disciplinas afins.
Campo de atuação é
menos
preciso. Maior
interação com as
ciências econômicas e
ciências do
comportamento.
É notória, por essa
comparação, a visão holística que a contabilidade gerencial
procura expressar
em seus relatórios. Destaca-se a orientação para o futuro, a preocupação
com o impacto e a
tempestividade das informações sobre os gerentes e a amplitude do
campo de atuação,
permitindo a utilização de técnicas e teorias advindas de disciplinas
afins.
Johnson e Kaplan
(1987) argumentam que a contabilidade gerencial tem se
preocupado muito
com informações para decisões de curto prazo voltado para o ambiente
interno das
empresas, não contribuindo para o seu futuro de longo prazo, ou seja no
aspecto
estratégico. Dada a importância atribuída à estratégia no atual contexto de
competitividade
global crescente, este comportamento estaria colocando a contabilidade
numa posição de
pouca relevância para o processo de gestão.
Assim, foi
caracterizada como convencional aquela contabilidade gerencial
preocupada com o
fornecimento de informações para a gestão de curto prazo, cujas
técnicas foram
desenvolvidas ainda na década de 50, as quais não respondem de forma
adequada para o
planejamento de longo prazo, embora contribuam para a consecução
dos objetivos de
curto prazo, tidos como táticos e, dessa forma para a consecução dos
objetivos
estratégicos, por meio do controle gerencial, responsável pelo feedback aos
gerentes de modo
que possam realizar ajustes nos plano e metas.
Horngren, Foster e
Datar (2000) alertam para o fato de que as informações
gerenciais não são
apenas utilizadas pela administração interna da empresa, sendo cada
vez mais
partilhadas com clientes e fornecedores.
3.2.3 A
contabilidade gerencial estratégica
Estudiosos e
pesquisadores vêm publicando sobre os aspectos estratégicos
da contabilidade
gerencial. Isso pode ser observado a partir da apresentação dos seus
objetivos e
finalidades. Para Horngren, Foster e Datar (2000), o objetivo da contabilidade
gerencial, dentre
outros é fornecer informações para formulação das estratégias gerais,
implicando numa
perspectiva de longo prazo. Assim, inclui decisões acerca do
desenvolvimento de
inovações e de produtos, bem como investimentos em ativos tangíveis
e intangíveis
(marcas, patentes, recursos humanos, dentre outros).
O IFAC (1998, p.
99, tradução nossa) afirma que a contabilidade gerencial
está inserida no
processo de gestão, fornecendo informações para:
a) controlar as
atividades correntes de uma organização;
b) planejar
estratégias, táticas e operações futuras;
c) otimizar o uso
dos recursos;
d) medir e avaliar
o desempenho;
e) reduzir a
subjetividade no processo de tomada de decisões; e
f) melhorar a
comunicação interna e a externa.
Shank e
Govindarajan (1997, p. 5) consideram que a contabilidade gerencial
participa do
processo cíclico estratégico, no qual se constitui a administração, a saber:
1) formular
estratégias;
GRZESZEZESZYN,
G.
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
2) comunicar essas
estratégias a toda a organização;
3) desenvolver e
pôr em prática as táticas para implementar as estratégias; e
4) desenvolver e
implementar controles para monitorar as etapas de
implementação da
estratégia e depois o sucesso no alcance das metas
estratégicas.
A contabilidade,
mais especificamente no aspecto gerencial, enquanto sistema
de informações,
encontra-se em todas as etapas de desenvolvimento da estratégia.
IUDÍCIBUS, MARTINS
e GELBKE(1990, p. 67) argumentam que “[...] um bom sistema
de informação e
avaliação não pode repousar apenas em valores monetários, mas deverá
incluir, na medida
do possível, mensurações de natureza física”.
Para BROMWICH
(1990), a característica de estratégica atribuída à
contabilidade
gerencial pode ser justificada considerando duas teorias econômicas: a
primeira diz que o
produto é valorizado de acordo com os seus atributos e características
oferecidos ao
consumidor. LANCASTER (1966, 1979 citado por BROMWICH, 1990)
vê os produtos como
um conjunto de características que são avaliadas pelo mercado; a
segunda repousa num
conjunto de conhecimentos sobre economia da organização industrial
que correspondem à
teoria dos mercados disputáveis, a qual apresenta as condições para
estratégias de
preço e produção, buscando sustentação diante de uma potencial
competição,
concentrando-se sobre condições de custo conforme BAUMOL, PANZAR
e WILLING (1988
citado por BROMWICH, 1990).
DIXON (1998)
argumenta que a contabilidade gerencial é influenciada pelas
decisões
estratégicas, pois estas devem ser redigidas em linguagem e técnicas contábeis,
caso se queira
monitorar e controlar o gerenciamento estratégico. Informa, ainda, que a
formulação e o
desenvolvimento das estratégias dependem de informações que podem
ser fornecidas pela
contabilidade gerencial, como estrutura de custos, estratégias de preços
e produtos, volumes
e participação no mercado dos competidores, entre outras. Contudo,
Bromwich (1989
citado por DIXON, 1998) e Wilson (1991 citado por DIXON, 1998)
argumentam que a
contabilidade gerencial deve assumir uma postura estratégica por meio
de relatórios com
informações do ambiente externo.
Procurando advogar
em prol da contabilidade estratégica, Brouthers e Roozen
(1999) apontam as
principais deficiências dos sistemas de contabilidade financeira e
gerencial
convencional:
a) tendência a
confiar em informações financeiras para inúmeras aplicações;
b) utilizam
principalmente informações históricas;
c) fornecem
informações relativas as atividades internas da empresa, não
explorando
informações do ambiente externo, como a dos competidores;
d) a pouca
orientação para o futuro é obtida com uma simples extrapolação do
passado.
Contrastando,
Brouthers e Roozen (1999) informam que a contabilidade
estratégica atua
fornecendo informações necessárias para as seguintes funções estratégicas:
a) análise
ambiental;
b) geração de
estratégia alternativa;
c) seleção de
estratégia alternativa;
d) planejamento da
implementação da estratégia;
e) controle do
processo de gerenciamento estratégico.
Um outro aspecto,
destacado por Hamel, Doz e Prahalad (1989), diz que a
contabilidade
gerencial estratégica contribui para a obtenção de vantagem competitiva
sustentável.
Entretanto, Cooper (1996) argumenta que em mercados onde as empresas
negociam praticamente
os mesmos produtos e são capazes de absorver rapidamente
inovações das
concorrentes, essas acabam por criar vantagens competitivas temporárias,
por meio das quais
procuram obter lucro.
3.2.3.1 Definições
de contabilidade gerencial estratégica
O primeiro a cunhar
o termo contabilidade gerencial estratégica foi Simmonds
(1981 citado por
GUILDING; CRAVENS; TAYLES, 2000, p. 116, tradução nossa)
que a define como “a
provisão e análise de dados da contabilidade gerencial sobre um
negócio e os seus
competidores para uso no desenvolvimento e monitoramento da
estratégia de
negócio”.
Bromwich define-a
como: “...a provisão e análise de informações financeiras
sobre o mercado do
produto, estrutura de custos da firma, custo dos competidores e o
monitoramento das
estratégias da empresa e aquelas dos seus competidores sobre vários
períodos” (1990, p.
28, tradução nossa).
Ward (1996 citado
por PADOVEZE, 2003) comenta que a contabilidade
gerencial, para
responder a administração estratégica, deve ser capaz de fornecer as
informações
financeiras necessárias dentro de um tempo adequado. Padoveze define
controladoria
estratégica como:
[...] a atividade de controladoria
que, através do sistema de informação contábil,
abastece os responsáveis pelo
planejamento estratégico da companhia com
informações tanto financeiras quanto
não-financeiras, para apoiar o processo
de análise, planejamento,
implementação e controle da estratégia organizacional
(2003, p. 94).
O foco para
contabilidade gerencial estratégica destacado nas definições é a
estratégia
empresarial, cabendo a formulação, planejamento e controle, procurando
participar
efetivamente do sucesso empresarial.
3.2.3.2 Fundamentos
e enfoques da contabilidade gerencial estratégica
No trabalho de
Martins (1998 citado por PADOVEZE, 2003), foram
apresentados os
fundamentos e os enfoques de atuação da controladoria ou contabilidade
estratégica. Os
fundamentos são:
GRZESZEZESZYN,
G.
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
a) atenção a todos
os stakeholders;
b) preocupação com
o longo prazo;
c) uso de
informações financeiras e não-financeiras (produtividade, qualidade,
satisfação dos
clientes e funcionários, dentre outras); e
d) foco constante
no ambiente externo.
Atua sobre
informações relativas a:
a) competidores:
custos, rentabilidade, preços de venda, capacidade produtiva;
b) clientes:
satisfação em relação aos concorrentes, motivos dos negócios não
realizados e outras
informações;
c) funcionários:
satisfação, absenteísmo, imagem da empresa junto a potenciais
funcionários,
produtividade, e outras;
d) fornecedores:
evolução da qualidade, capacidade produtiva e situação
financeira, grau de
satisfação com os fornecedores;
e) macro-ambiente:
conjunturas, política e sócio-econômica, relacionadas com
a empresa,
indicadores de mercado externo, importações, câmbio e outras;
f) acionistas:
satisfação, valor da empresa e outras.
Embora o
entendimento do que venha a ser contabilidade gerencial estratégica
dentre a maioria
dos estudiosos pesquisados tenha aspectos comuns (foco no ambiente
externo, no
marketing, nos competidores), Coad (1996 citado por GUILDING;
CRAVENS; TAYLES,
2000, p. 116, tradução nossa) comenta que “contabilidade gerencial
estratégica é um
campo emergente do qual os limites são desconhecidos e, ainda, não há
visão unificada do
que é ou como pode desenvolver-se. A literatura existente no campo é
discordante e
desarticulada”.
A discussão é
alimentada por Lord (1996) que argumentou, por meio de um
estudo de caso, que
práticas e técnicas apresentadas como sendo de contabilidade gerencial
estratégica podem
ser encontradas em muitas empresas, fazendo parte do gerenciamento
operacional e, em
muitos casos, não são coletadas e ou usadas pela contabilidade gerencial.
Entretanto, a
existência da contabilidade gerencial estratégica passa pela
postura estratégica
dos contadores ou controllers quando estes ganham importância no
processo decisório
estratégico. Esse raciocínio é corroborado por Simmonds (1986),
Bromwich e Bhimani
(1994 citado por ROSLENDER; HART, 2002), Ferreira (1992),
Iudícibus (2001),
que entendem que o posicionamento do contador ou controller na
empresa faz com que
a contabilidade ganhe importância no processo de administração
estratégica.
3.2.3.3 Práticas de
contabilidade gerencial estratégica
As práticas de
contabilidade gerencial estratégica podem ser inúmeras e
variadas. Há
trabalhos que relacionam a contabilidade gerencial e os investimentos da
empresa (CAWENBERGH
et al., 1996; SHANK, 1996; CARR; TOMKINS, 1996) ou
ainda ser abordado
o balanced scorecard (KAPLAN; NORTON, 1997). Guilding,
Cravens e Tayles
(2000) tomaram por referência os trabalhos de Simmonds (1986),
enfoque em marketing,
Bromwich (1990), enfoque em competidores e Wilson (1995
citado por
GUILDING; CRAVENS; TAYLES, 2000), enfoque no longo prazo, para
determinar
parâmetros para discernir as práticas de contabilidade gerencial estratégica,
os quais são:
a) orientação para
o mercado ou ambiental;
b) enfoque sobre
competidores; e
c) orientação para
o futuro de longo prazo.
Assim,
parametrizado Guilding, Cravens e Tayles (2000) abstraíram 12
práticas de
contabilidade gerencial estratégica, a saber: custeio dos atributos, avaliação
da marca,
monitoração da marca, avaliação do custo dos competidores, monitoração da
posição
competitiva, avaliação dos competidores baseada em demonstrações financeiras
publicadas, custeio
do ciclo de vida, custeio da qualidade, custeio estratégico, precificação
estratégica,
custeio meta, custeio da cadeia de valor.
Outras práticas
poderiam ser elencadas, como a utilização do EVA, economic
value
added, porém estas são suficientes para dar uma perspectiva da
amplitude do
entendimento do que
seja contabilidade gerencial estratégica, por parte dos estudiosos.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho
abordou a relação estratégia e contabilidade, o que se
tem denominado de
contabilidade gerencial estratégica, desde as suas primeiras referências
como campo para
pesquisa. O estudo revelou que essa temática não é recente, porém,
pouco se produziu a
respeito desde que foi considerada profícua para trabalhos científicos,
na década de 1960,
por Anthony (1972). Foi somente em 1981 que surgiu numa revista
de cunho
profissional uma definição inicial de contabilidade gerencial estratégica.
Ainda na
década de 1980,
Johnson e Kaplan (1987) fazem um questionamento aos pesquisadores
da área quanto a
importância dos estudos realizados num contexto de globalização dos
negócios e do
rápido desenvolvimento da tecnologia da informação. Esta perspectiva
para a informação
contábil fez com que estudiosos se voltassem para uma realidade de
competitividade
mundial crescente.
A contabilidade tem
evoluído juntamente com os momentos econômicos
vivenciados pela
humanidade ao longo de sua história. Partindo dessa percepção, podese
entender a
contabilidade gerencial estratégica como um esforço de profissionais e
estudiosos da
contabilidade em propiciar novas práticas e teorias que possibilitem
informações em
tempo e relevância capazes de atribuir maior segurança durante o processo
de formulação,
planejamento e execução da estratégia.
Uma releitura dos
postulados contábeis, tendo por conseqüência uma mudança
de postura dos
profissionais da área, pode respaldar uma adjetivação da contabilidade
GRZESZEZESZYN,
G.
Revista
Capital Científico do Centro de Ciências Sociais Aplicadas V. 3 nº1
Jan/Dez-2005
como estratégica,
uma vez que se entende uma entidade como sendo aquela composta
por recursos
humanos, econômicos e financeiros que tem por meta sobreviver em quaisquer
cenários
econômicos. Isso vai de encontro ao postulado da continuidade, em que a entidade
não tem um tempo
delimitado de vida. Embora caibam outras interpretações deste
postulado, a
abordagem estratégica está implicada neste.
Para finalizar, foi
elencado um conjunto de práticas, as quais foram mencionadas
em trabalhos
pesquisados como sendo de contabilidade gerencial estratégica, de maneira
que se ilustrasse
com exemplos a diversidade de entendimentos do termo. A percepção
do que seja e o
campo de atuação da contabilidade gerencial estratégica pode ser
decorrente da
cultura de cada país, uma vez que publicações de outros países foram
utilizadas neste
trabalho. Em parte, essa diversidade de práticas é decorrente do termo
estratégia, cujos
diversos conceitos foram abordados. No entanto, não houve o intuito de
fechar a questão,
uma vez que se desconhecem os limites deste campo de pesquisa. Ao
contrário, aponta
para oportunidades de pesquisa do tipo estudos de caso visando
demonstrar como são
desenvolvidas tais práticas no cotidiano.
5
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Artigo disponível em: http://200.201.10.18/index.php/capitalcientifico/article/view/607
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